Carnaval de verdade : hipersexualização feminina




Estamos no carnaval e sei que estou inserida em uma cultura que hipersexualiza o corpo da mulher
e ao mesmo tempo existe uma hipócrita condenação da mulher que se expõe. Não é fácil entender essa relação né ?
A Revista Azmina divulgou um vídeo em que mulheres de News Orleans comentam vinhetas da Globeleza. As entrevistadas chamam a atenção para algo que acho importante: a beleza negra deve ser celebrada, já que a história mostra que isso pouco aconteceu. Usando a lógica, o vídeo deveria contemplar um dançarino sambista. Afinal, por que a celebração da beleza, principalmente no carnaval, geralmente se resume ao corpo feminino? E lembram o quanto a publicidade se vale disso para vender produtos. Há sempre uma mulher seminua em comerciais. Não se vê isso com homens, não importa qual seja o público-alvo.
A  entrevistadas negras também comentaram o quanto é ruim ver uma mulher negra dançando nua em TV aberta. Porque fica claro que a função dela ali é vender o carnaval explorando o sexo, o que para elas é muito simbólico. A Globeleza não representa só uma mulher que está demonstrando a relação maravilhosa que ela possui com seu corpo, como lembra uma das entrevistadas, algo que é realmente bonito de se ver, é também sua hipersexualização.
Me lembro da história de Sarah “Sartijie”, uma sul-africana do século 19 que foi levada para Londres a fim de ser exibida em feiras e apresentações. Exposta seminua como as mulheres em propagandas , ela tinha seu corpo e órgãos sexuais manipulados com curiosidade pela plateia como se fosse parte da selvagem fauna africana. O que chamava a atenção em Sarah era sua completa exoticidade: ela representava o aposto do homem branco europeu.
Vocês sabiam que até 1974,partes do corpo de Sarah, inclusive seus órgãos sexuais e cérebro, ainda eram exibidos no museu de Paris, e só voltaram à África em 2002 a pedido de Nelson Mandela. Teorias e estudos científicos foram feitos a partir dos restos mortais de Sarah. Alguns tentavam provar a inferioridade do que chamavam de “raça negra”. Sarah era encarada como uma mulher africana genuína, e suas qualidades foram incorporadas ao imaginário europeu do que é ser uma mulher negra, o que fomentou a naturalização do comportamento racista.
É fácil entender porque a mulher negra que assiste à vinheta da Globeleza se sente ofendida. Por que a negra não dança em TV aberta fora do carnaval? Na minha cabeça é clara a ideia de separação. Negra para a diversão, branca para o casamento, um problema que muitas pensadoras negras já denunciaram.
O corpo feminino é hipersexualizado porque existe uma relação de poder sobre ele. Para penetrar seu espaço, que é moralizado, polarizado entre bem e mal, que o homem precisa conquistá-lo como um prêmio. Aí não importa se é com dinheiro, influência ou força bruta, tudo isso se resume a poder. É quando ele se satisfaz mais pelo prazer que o próprio poder traz do que com o ato sexual em si. Por isso a quantidade importa, e é justamente isso que a publicidade explora. De que é esse o tipo de poder que o homem conquistará quando adquirir o produto anunciado.O capitalismo explora essa 'fome sexual' masculina, colocando diante dos homens imagens de corpos femininos que despertem neles a libido e o desejo, sendo essa a isca perfeita para atraí-los para seus produtos. Se não fosse por essa sede sexual toda, talvez um cartaz com uma mulher sensual não chamasse tanta atenção
Na nossa cultura sexo é poder infelizmente. O mercado entende isso e da mesma forma direciona a mulher produtos que vão nos deixar mais atrativas para os homens, para sermos nos sentirmos desejadas por eles porque nos encaixamos em um padrão desejável, e não porque estamos mais confiantes sobre nós mesmas, para nós mesmas.
A Globeleza é um ideal de beleza em que a mulher negra se espelha. Mas é tão inatingível quanto a barbie branca que há um tempo está parada na prateleira e exigiu uma nova campanha da marca como uma façanha do capitalismo. A Globeleza é uma representatividade negra na grande mídia, mas não deixa de ser um padrão. Quantas negras se identificam com aquele corpo magro,malhado,hipersexualizado e silenciado na TV? 
E quando bate a revolta ou quando somos moralizados, é bem mais fácil culpar a mulher não é mesmo? Pouca gente se dá ao trabalho de entender quem está por trás de tudo isso. É questão de foco. As pessoas criticam a mulher e suas escolhas, mas não enxergam em perspectiva. Criticar a objetivação da mulher não é condenar as divas do samba nem lançar como mártir aquelas que se enclausuram dentro de casa. É um convite ao olhar em profundidade, à problematização e, principalmente, a pensar propostas de inclusão desinteressada.



Se tiver afim da uma lida aqui oh :
http://ideiasembalsamadas.blogspot.com.br/2014/07/hipersexualizacao-por-que-ela-existe.html


http://revistacaja.com/carnaval-e-a-hipersexualizacao-da-mulher/


http://sushicervejaeteorias.blogspot.com.br/2016/01/porque-o-capitalismo-ta-transformando.html
Super Beijo!
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